Conheça a trajetória de Thornton, que não teve time por dois anos e hoje é cestinha do Botafogo e convocado para o Jogo das Estrelas 2024

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Norte-americano não encontrou equipe após se formar universidade e manteve a forma até surgir uma oportunidade no interior do Paraná

Por Gustavo Mesa

Às vezes, tudo o que alguém precisa é de uma oportunidade. Isaac Thornton, ala do Botafogo, é uma prova disso. Após se formar na universidade, o norte-americano ficou dois anos sem clube, treinando por conta própria à procura de uma equipe. A chance apareceu em um lugar onde o jogador jamais esperaria: no interior do Paraná. Ele não pensou duas vezes e abraçou o desafio. Oito anos depois, Thornton é destaque do Glorioso, um dos principais cestinhas do NBB CAIXA e acaba de ser convocado para seu primeiro Jogo das Estrelas.

Isaac foi um dos tantos norte-americanos que crescem com o sonho de jogar basquete profissionalmente. Em um país com 333 milhões de habitantes, dá para imaginar quanta gente tem o mesmo objetivo. O garoto tinha o talento, mas naquela época, quando as redes sociais estavam longe do que são hoje, era mais difícil chamar atenção jogando em uma pequena cidade de West Virginia.

Nos Estados Unidos, a trajetória mais comum para um jogador de basquete começa na escola. O jovem tem que se destacar na equipe do colégio para despertar atenção dos olheiros das universidades, que oferecem bolsas de estudos para atrair os talentos. Isso não é pouca coisa, já que os preços das instituições superiores são exorbitantes por lá. “Você vai se endividar por uma década, com certeza”, disse Thornton sobre a os valores do estudo.

Ao se formar na escola, Isaac recebeu propostas de instituições da elite, mas optou por permanecer em seu estado e defender Fairmount State, de uma divisão inferior. Thornton teve uma excelente carreira universitária. Nos quatro anos na faculdade, anotou mais de dois mil pontos e entrou no top 10 histórico da instituição em pontuação e arremessos de três.

+ Confira as estatísticas de Thornton no NBB CAIXA

Mas lembra aquela história do quanto é competitivo o basquete nos Estados Unidos? Quem sai da escola e recebe bolsa de uma faculdade já é uma parcela muito pequena dos jogadores. Quando se fala de sair da universidade e partir para o profissional, o funil é ainda mais estreito.

Assim que se formou, na metade de 2013, Thornton tentou uma vaga na liga de desenvolvimento da NBA, mas ficou no corte final. No ano seguinte, a história foi a mesma. Isaac não conseguia entender porque sua oportunidade não aparecia. No entanto, não havia outra opção além de treinar, se dedicar e estar pronto.

“Foi muito maluco para mim porque eu tive uma ótima carreira na universidade, então eu achei que com certeza teria um time. Foi uma surpresa. Mas então eu falei: ‘é como qualquer outra coisa, surge uma adversidade e você precisa continuar trabalhando duro, tendo fé. É um processo e quando a oportunidade aparecer eu vou estar pronto’”, revelou o ala do Botafogo.

Em 2016/17, o treinador universitário de Thornton o indicou um agente, que um tempo depois apareceu com uma proposta: defender Campo Mourão (PR) no NBB CAIXA. O norte-americano não conhecia a cidade, só tinha visto na internet que era distante de São Paulo. Mas isso estava longe de ser um problema.

“Era um pouco assustador, mas eu estava trabalhando duro há tanto tempo que não importava. Não importava o que aconteceria, eu ia chegar lá com vontade para aproveitar qualquer oportunidade que se apresentasse”, afirmou o jogador.

Partiu, Brasil!

Assim, Isaac Thornton partiu para sua experiência no Brasil, que foi impressionante logo de cara. Primeiro, pelo nível de basquete que encontrou por aqui.

“Quando cheguei, eu percebi que o que eu esperava era verdade. Era uma liga muito boa, com jogadores muito bons. O mais chocante foi como a liga era física, embora eu estivesse acostumado. Especialmente porque sou americano e nunca tinha me provado, eles foram muito físicos comigo. Não vou dizer que fiquei surpreso, mas eu com certeza respeitei ainda mais do que já respeitava”, revelou.

Se nas quadras a vida era dura com os rivais, pelas ruas de Campo Mourão a situação era bem diferente. No Brasil, Thornton conheceu o fenômeno do “bom dia”.

“A cidade abraçou a gente. Sempre que você andava pela cidade, as pessoas falavam ‘bom dia’, conversavam comigo e isso fazia eu me sentir bem. Nos Estados Unidos, dependendo de onde você está, as pessoas são mais fechadas, não falam com estranhos. Em Campo, eu podia ser um estranho, mas as pessoas conversavam, eram amigáveis. Eu tive uma experiência maravilhosa”, detalhou.

Após um ano em Campo Mourão, Thornton se transferiu para o Macaé (RJ) para disputar a Liga Ouro. O norte-americano também aprovou seu segundo lar no Brasil. “Tem praia, então você nunca está mal quando tem a praia”, brincou.

Do Rio, ele retornou ao interior do Paraná, desta vez para atuar no Pato Basquete. A equipe e o jogador tinham o mesmo objetivo: disputar o NBB CAIXA.

“Pato Branco é uma cidade pequena que ama esportes. É muito limpa e organizada. Eu joguei lá em 2019 na Liga Ouro, era um projeto novo. Eles estavam começando as coisas e queriam ir para o NBB CAIXA. Eu senti que era uma oportunidade para mim porque eu também estava tentando provar que eu deveria estar de volta no NBB CAIXA”, revelou.

Ambos alcançaram suas metas e Thornton defendeu o Pato Basquete na estreia da equipe no NBB CAIXA, na temporada 2019-20.

Foram três anos no Paraná até a mudança seguinte, rumo à capital do país, para defender o Cerrado Basquete no NBB CAIXA 2021/22. Pela primeira vez na vida, contando escola e universidade, Thornton jogaria em uma equipe de cidade grande.

“A mudança para Brasília foi definitivamente diferente. Eu já tinha jogado lá várias vezes e conhecia um pouco da cidade, que é uma das minhas favoritas no Brasil. Tem boas pessoas, gentis, um pouco diferente dos outros lugares, mas muito legais”, afirmou Thornton.

Depois de uma temporada na capital do Brasil, o norte-americano embarcou para além da fronteira e assinou com o Ciclista Olímpico, equipe de Santiago del Estero, cidade localizada a 1.000 quilômetros de Buenos Aires.

Lá, Thornton encontrou um basquete veloz, um jogo mais corrido e foi confrontado com aquela que talvez seja a grande polêmica do continente: qual churrasco é melhor?

“É maluco porque a Argentina é parecida e ao mesmo tempo muito diferente do Brasil. Eles sempre me perguntavam: ‘Isaac, você prefere a Argentina ou o Brasil?’. Eles me perguntavam do churrasco. E eu respondia que você pode ir com qualquer um que não tem erro. Eu amo o Brasil, então eu talvez seja enviesado”, disse.

Isaac curtiu viver na Argentina, mas assim que acabou a temporada seu objetivo era retornar ao NBB CAIXA e continuar colocando seu nome no basquete brasileiro. Em 2023/24, esta chance veio, justamente no lugar onde Thornton mais gostaria de jogar.

Glorioso cestinha

Isaac Thornton foi uma das principais contratações do Botafogo para a temporada. E ao que tudo indica, a negociação não foi das mais extensas. Assim que soube da oportunidade de retornar ao NBB CAIXA, morar no Rio de Janeiro e ainda defender a tradicional camisa do Glorioso, o norte-americano embarcou quase imediatamente.

“Meu agente estava falando com alguns times e o Botafogo era um dos interessados. O Rio de Janeiro é minha cidade favorita. Eles queriam me dar a chance de recomeçar no NBB CAIXA, queriam que eu tivesse um papel importante. Sempre que você veste o Botafogo no peito é uma grande honra”, revelou.

Com a camisa do Glorioso, Thornton está apresentando seus melhores números em cinco temporadas de NBB CAIXA. O ala tem média de 20,4 pontos por partida, de longe a mais alta da carreira e a apenas 0,2 ponto de distância de Lucas Dias, do Sesi Franca, que lidera a competição. Isaac está na ponta do torneio em dois quesitos estatísticos: minutos (36,7) e lances livres cobrados (4,7) por partida.

O tempo de quadra e a quantidade de faltas sofridas indicam a alta carga física que exige o jogo de Thornton. Para aguentar tamanha intensidade, o norte-americano mantém a mesma disciplina de toda carreira. E até por isso ainda não conseguiu conferir tudo o que o Rio de Janeiro tem para oferecer.

“Honestamente, eu estou tão focado nessa temporada que ainda não aproveitei o Rio como gostaria. Todo dia é só basquete, como melhorar, ver jogos passados, tomar conta do meu corpo. Eu fui algumas vezes para a praia e é uma ótima maneira de recuperar a energia. Na minha vida pessoal eu sou só focado em basquete. Eu respiro, durmo e como basquete, quero maximizar o tempo que eu tenho”, disse Thornton, que está com 33 anos.

Quem valoriza esta postura de Thornton é o técnico Miguel Leal. Para o comandante, o ala é uma ótima influência no elenco do Glorioso.

“É um cara de grupo, está sempre junto com todo mundo. É um cara que gosta de trabalhar, de treinar, chega sempre antes e é um dos últimos a sair. Não à toa ele está performando desse jeito. Mas o principal dele é que é uma pessoa com uma personalidade muito bacana para se ter no grupo”, afirmou o treinador.

A dedicação, a persistência e a perseverança de Thornton para mostrar o seu valor no basquete brasileiro foram coroadas com a primeira convocação para defender o Time Mundo no Jogo das Estrelas, que acontece entre 11 e 17 de março no Ginásio do Ibirapuera. 

Isso tudo só foi possível porque lá atrás, quando não tinha nem equipe para jogar, Thornton não desistiu e acreditou no seu potencial. E se tem uma lição que ele pode destacar de sua trajetória, é a seguinte: 

“É melhor estar pronto para uma oportunidade que nunca chega do que não estar pronto quando ela chegar”.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.

Por: Imprensa – Liga Nacional de Basquete 

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Sobre o Autor

Formado em Educação Física e especializado em Jornalismo Esportivo. Editor e proprietário do Templo dos Esportes

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