Entrevista: Helinho Garcia vê elenco do Sesi Franca com fome para conquistar o tri do NBB CAIXA antes da série contra o Minas

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Série melhor de cinco entre Sesi Franca e Minas Tênis Clube pela semifinal começa nesta sexta-feira

Atual bicampeão do NBB CAIXA, o técnico Helinho Garcia prepara o Sesi Franca para mais uma semifinal. A série melhor de cinco jogos contra o Minas Tênis Clube começa nesta sexta-feira (17/05), às 19h, no ginásio Pedrocão. Antes do início do mata-mata, o treinador participou de um bate-papo com os jornalistas Marcius Azevedo e Juvenal Dias, da Liga Nacional de Basquete, e Gustavinho Lima, Nezinho e Leonardo Sasso, comentaristas do NBB CAIXA.

Como vê esse reencontro com o Minas, mesmo adversário da semifinal da temporada passada?
É uma semifinal com grandes equipes. Bauru, Flamengo, Sesi Franca e Minas. São equipes que, além do investimento, vêm construindo ano após ano, uma forma de jogar, um sistema bem determinado, bem estabelecido, cuidando dos valores importantes e, por isso, estão na semifinal do NBB CAIXA. É uma semifinal que já se repetiu algumas outras vezes. Agora com jogadores diferentes, que chegaram nesta temporada para gente e também para o Minas. Mas, pela estrutura das equipes, tem tudo para se repetir o que aconteceu em outras oportunidades. O equilíbrio deve prevalecer. Qualquer jogador pode definir uma partida. Jogo após jogo vão acontecendo mudanças, adaptações, melhorias nas equipes para alcançar uma excelência atrás das vitórias para chegar na grande final.

Esse grupo ganhou todos os títulos possíveis. Como esta a fome do time?
Esse foi um grande diferencial nos dois playoffs, que classificamos com um 2 a 0 e 3 a 0, sem titubear. Exatamente por essa fome de vitória. É algo que é fácil falar, mas vejo diariamente. É ter viagem às 8h e, às 7h, Lucas Dias e David Jackson estarem no ginásio treinando arremesso. É o treino acabar e o Charles (Hinkle), o Panda (Santiago Scala), Nathan e Guillent ficarem na quadra treinando arremessos, um contra um… Essa fome é contagiante. Todo mundo neste momento vai estar com fome, mas, querer mais, vai ser um diferencial. Vejo o nosso time muito comprometido, disciplinada e com essa motivação lá em cima para buscar essa vaga na final.

Como foi o ajuste defensivo ao longo da temporada?
A nossa batalha foi para colocar variações defensivas, motivar os jogadores a cumprirem essas regras e melhorar a cada dia. Mas chegou em um momento, após o jogo contra o Brasília e antes de enfrentar o Cerrado, que eu fiz algumas reuniões no hotel. Falei com os mais jovens, depois chamei Lucas Dias, Panda e David Jackson. Depois com o time todo. Fiz outras reuniões individuais. Criamos um pacto, independentemente de ganhar ou perder, depois de nove meses de temporada, não é mais o que vamos fazer e sim como vamos fazer. Como vamos executar aquela defesa e em qual momento do jogo. Esse vai ser o grande diferencial. Aí, depois do jogo com o Brasília, eu falei para eles que iriámos demonstrar como vamos entrar no playoff contra o Cerrado e fizemos um baita jogo. Um jogo de fase de classificação pode servir para dar ênfase para pontos estratégicos da equipe.

Existe pressão por ainda não ter conquistado títulos na temporada?
Existe vontade, voracidade para buscar esse título do NBB CAIXA. O que aconteceu na última temporada ou até nas últimas é muito difícil. Foram 46 jogos sem perder. Ganhar todos os títulos em uma temporada. Aí podem dizer que ficamos mal-acostumados. Temos consciência de quanto é difícil, de quanto precisamos batalhar, e isso dá motivação para fazer o melhor e buscar o título do NBB CAIXA.

Essa semana tivemos o lançamento do livro que fala da reconstrução do Sesi Franca. Essa reconstrução está consolidada?
Chegar em uma semifinal mostra o trabalho que é feito, de uma cidade que que preza por estar formando os jogadores e os lança de forma gradativa, sempre buscando a competitividade aliada a isso tudo. Essa competitividade é importante, mas, o mais importante é que, mesmo com essa reestruturação, reformulação, fomos nos adaptando, ganhando entrosamento, ganhando carinho um com o outro dentro e fora da quadra, porque eu acredito que é muito do que acontece dentro da quadra é cultivado fora dela. Então mostra que estamos no caminho. Mas isso basta? Outras equipes também estão no caminho. Essa é a beleza do esporte. É uma equipe que eu gosto muito de treinar, porque eles estão muito trabalhadores. Talvez dos oito anos que eu estou aqui, esse elenco está entre os três que mais treinam, individualmente, coletivamente. Eles conversam entre eles, então isso são coisas que vão sendo executadas. E esse caminho, eu falo muito para eles, é cultivado. Como é que a gente chega nesse caminho? Muita gente fala que o nosso time está unido. Nós realmente estamos, mas temos de cultivar essa união. Amanhã, eu tenho de chegar e dar bom dia, perguntar como é que estão as coisas, se o cara melhorou da contusão, se a que a esposa melhorou, que ela estava com dengue. Temos de demonstrar vontade todo dia, porque senão você perde a vontade. Isso faz um ciclo virtuoso. Essa equipe demonstra esse ciclo virtuoso em busca daquilo que a gente tanto quer, que era chegar nas quartas de final como chegamos, chegar na semifinal como chegamos e agora obviamente chegar na final.

Qual o peso de ter uma administração eficiente?
Digo sempre que o sucesso ele é multifatorial. São vários fatores envolvidos para que você possa obter o sucesso, chegar numa semifinal ou numa final, ganhar um campeonato. Claro que a pressão pode gerar um incômodo, mas, o que mais me incomoda, é injustiça. Dentro desse processo, você tem de saber lidar com pressão, com um elogio, com injustiça, porque o mundo não é justo. Agora dentro deste processo, nós tivemos a plena convicção, dentro e fora da quadra, daquilo que a gente vinha fazendo, estruturando, montando uma equipe do tamanho que a gente poderia no primeiro momento, trazendo jogadores importantes. Um exemplo: nós tivemos um ano muito difícil, quando tínhamos o melhor time dos oito anos, e não conseguimos nem chegar nas semifinais. Esse trabalho que é feito fora da quadra, com os pés no chão, colocando o tempo todo as coisas nos deu devido lugar, mostrando o quanto a gestão está tendo bem feita, pagando em dia, trazendo os conceitos, os valores que a gente não pode abrir mão aqui em Franca, foram fundamentais para que a gente pudesse ter a tranquilidade dentro da quadra para executar como a gente queria executar. Essas parcerias, com o Sesi, patrocínio do Netshoes, da Magalu, o envolvimento das entidades da cidade, tem muito a ver com o trabalho que é feito dentro e fora da quadra. O esporte tem muito a ver com o mundo corporativo. E quando você consegue unir a os dois mundos, cultivando os mesmos valores, os mesmos princípios, naturalmente se tornam menos difícil. É sempre difícil, mas, menos difícil, para você alcançar os objetivos que você tem pela frente, deixando a regras claras para que eles estão envolvidos dentro do projeto.

Franca ganhou os dois jogos contra o Minas. Você tem o controle?
As duas equipes, obviamente, querem esse controle, mas, os dois jogos contra o Minas, foram os jogos decididos no último minuto. O jogo em Franca foi um ponto. Lá foram 10 pontos, mas, até o final, eles estavam tentando buscar. Acredito que vão ser jogos que, minuto após minuto, quarto após quarto, nós vamos ter de nos reinventarmos. Seja para mudança de estratégia, seja para cobrança de alguma coisa, seja para anular algum jogador que esteja tendo sucesso na equipe adversária. É um playoff aberto, onde as equipes se equivalem e, com certeza, quem ganha com isso é o público, que vai assistir grandes jogos.

Como é esse lado da gestão do grupo, que hoje tem uma importância enorme?
A melhor forma de se relacionar é sendo autêntico, mostrar de forma clara. Às vezes, eu vou conversar de forma individual. Às vezes, vamos conversar de forma coletiva, mas sempre sendo autêntico dentro daquilo que está acontecendo e buscando as soluções da melhor forma. Estudar o adversário, juntamente com o Pablo (auxiliar do Sesi Franca), mostrar o que eles estão fazendo, onde podemos explorar como uma armadilha para que possamos usufruir daquilo que o adversário está fazendo, mas é fundamental que a gente esteja alinhado. O comprometimento é pactuado com os jogadores, é fundamental que a gente esteja nos comunicando. Os maiores erros acontecem por falha na comunicação. É necessário estar se comunicando, seja no café no hotel,  no pós-treino, durante o treino. Vou dar um exemplo claro. Hoje (quarta-feira) acabou o treino e o Lucas (Dias) veio falar comigo sobre alguns detalhes que ele achava importante. Fizemos duas jogadas dentro daquilo que ele acredita que poderia acontecer e alinhamos. Se acontecer isso, nós vamos fazer assim. Essa abertura, esse relacionamento, mostra que estamos todos buscando o mesmo objetivo. E isso, tenho certeza, é uma das razões, um dos fatores, que fizeram a gente conquistar tanto.

O que você pode falar do crescimento do Lucas Dias?
Me traz uma uma alegria muito grande, porque o Lucas se tornou um jogador mais resistente, ele começou a ter um repertório maior, hoje ele cai no poste baixo, arremesso de fora, ataca o close-out, tem ido mais um rebote de ataque. Cada vez que ele aumenta o repertório dele, obviamente se torna a um jogador melhor. E, para um jogador que já é excelente, excepcional, se tornar ainda melhor, é motivo de muito orgulho. E ele, pela liderança que exerce, ele traz esse clima. Hoje é o dia dele é o dia dele. Vai lá e faz. É comigo, me dá a bola aqui que eu vou fazer. É um misto de sentimento que trazem algo muito bom para a equipe.

O Sesi Franca ficou nove dias sem jogar em relação ao Minas, que disputou os cinco jogos com o São Paulo. Como trabalhou isso?
Nós procuramos mensurar aquilo que era necessário neste período, um pouco de descanso, um pouco de treino, um pouco de academia, um pouco de vídeo. Muito alinhado com o Douglas Nazar, o nosso preparador físico, com o Rogerinho, o nosso fisioterapeuta, eu e o Pablo procuramos construir algo dando atenção aos detalhes para que a gente pudesse chegar o mais inteiro possível e, ao mesmo tempo, o mais treinados possíveis dentro desses nove dias que nós tivemos de trabalho.

Você falou muito do Sesi Franca, Mas, no seus estudos, como joga o Minas?
O Minas é uma equipe que joga de uma forma bastante coesa. Os jogadores sendo agressivos, procurando o melhor arremesso. É uma equipe que tem jogadores com características bem distintas, mas definidas. Vezaro é o cara que vai arremessar. O Chuzito é aquele cara que joga de dupla, o Paranhos é o cara que vai muito no pivô. O Renan (Lenz) faz o pick-and-pop. Dentro disso, nós vamos procurar minimizar, obviamente que não vou contar aqui o que vamos fazer, mas nós vamos procurar Minimizar esse volume que eles têm. Eles jogaram um pace (ritmo) muito alto contra o São Paulo e tiveram aproveitamento. A equipe do São Paulo sofreu para defender o Minas. É fundamental a gente ter uma defesa consistente, para que, com a bola na mão, procurar ditar o ritmo da partida.

O Léo Costa disse que o Minas vive o melhor momento da temporada. E Franca?
Desde que não tenhamos contusões, a batalha é para chegarmos a esse momento da melhor forma possível. Acredito que a gente, assim como o Minas, esteja no melhor momento na temporada, pelos treinamentos, pelo entrosamento, pelo conhecimento das características de cada companheiro. A gente está bem preparado. Obviamente que o Minas também está em um bom momento. Talvez isso seja a grande beleza da série Sesi Franca e Minas Tênis Clube. São duas equipes que se equivalem, tem jogadores que podem definir porque tem qualidade. Qualquer jogador pode definir o playoff e, por isso, temos de cuidar detalhe a detalhe, momento a momento, para que possamos buscar a vitória, ditar o ritmo. Mas acredito que nós também estejamos no melhor momento da temporada.

Você falou da abertura que dá para os jogadores. Foi sempre assim, desde o começo da carreira?
Sempre procurei fazer isso, desde o começo da minha carreira, porque eu tinha essa abertura com os técnicos, principalmente com meu pai, o Hélio Rubens. Mas tive também com o Lula (Ferreira) no meu último ano de carreira, com o Flor Meléndez no Vasco. Como fui jogador, se torna um pouco mais comum dar essa abertura. E, essa abertura, não quer dizer que a gente vai sair na dobra porque ele acha que o cara vai receber. Não, ele falou isso, mas eu acho que a gente tem de sair na dobra porque a partir dali que nós vamos fazer determinada ação. Eu dou a abertura, a gente pode discutir e obviamente há uma noção clara de que a decisão vai ser tomada por mim no final. Até porque eu tenho de estudar o adversário e deixo claro para eles: estou tomando essa decisão por isso e por isso e por isso. Para mim não tem melindre nenhum. O Jonathan (Luz) falou que com isso está acontecendo, não vou mudar não, porque senão não cara, ele falou isso. Deixa eu ver os dois lances que você está falando. Eu via, achei que pode mudar, vamos mudar. O jogador, viu? Eu achei que pode mudar, vamos mudar, não tem melindre, não tem desgaste, não tem nada. Nós estamos aqui para fazer o melhor para a equipe e, se todos pensarmos dessa forma, nós vamos estar fazendo o melhor para nós mesmos.

Franca passou nas duas séries de playoffs sem perder. Como deixar o time alerta sem ter o sentimento?
A gente traz isso do fim da temporada anterior e também muito dessa temporada. Eu falo muito para eles, que, em determinado jogo, o tal jogador ficou muito ansioso, fez quatro faltas no primeiro quarto e eu falo que isso cortou e já cicatrizou. No playoff, eu vou ficar outra coisa, ansioso não, porque eu já vi que ansioso me traz uma coisa que eu acabo não fazendo aquilo que eu tenho. Opa, na hora que o adversário jogou com dobra, nós tivemos dificuldade. Na próxima vez que isso, nos playoffs, vamos levar vantagem porque eu vou fazer determinada coisa que nós já treinamos e vimos depois daquele jogo. A gente traz muito da última temporada, mas traz muito mais dessa temporada, jogo após jogo, dia após dia, conversa após conversa, vídeo após vídeo, para que a gente possa estar chegando nesse momento da melhor forma possível e executando da melhor forma, sabendo que já criamos cicatriz para que essa cicatriz não abra mais e a gente possa executar bem nos playoffs.

Como vê o fato de os armadores argentinos estarem se destacando no NBB CAIXA?
O armador é jogador que tem um maior número de fundamentos. Estou aqui com dois grandes armadores, Gustavinho e Nezinho, que eram caras que eles poderiam cair no poste baixo, porque sabiam bater bola, dar um semi-gancho, sabiam carregar um passe. E o armador, além da qualidade técnica, ele necessita da qualidade emocional, inteligência, feeling. No momento, eu vou explorar a esse jogador porque ele está te dando uma moral. Eu vou explorar esse jogador porque o adversário não consegue defender no poste baixo. E o basquete argentino ele tem, ao longo dos anos, formado grandes da armadores. O basquete brasileiro também, mas a Argentina conseguiu trazer uma massificação maior. A quantidade de jogadores, quantidade de times nas categorias de base são maiores do que no Brasil. Nós precisamos melhorar isso, ter mais clubes com categorias de base. A LDB (Liga de Desenvolvimento de Basquete) é fantástico, mas nós temos que ter torneios desde os 10, 11, 12 anos. Outro dia, eu perguntei para um auxiliar técnico do Obras Sanitarias quantos times sub-15 tinham em Buenos Aires? Ele falou que tem mais de 200. Eu falei sério, cara? Ele perguntou quantos times tem no Brasil? Eu não vou nem responder para a gente não falar, mas é uma coisa que me me coçou. Nós precisamos ter mais times, precisamos ter mais massificação. Da quantidade que se tira uma melhor qualidade. Obviamente que o Brasil hoje é um mercado excelente e os grandes jogadores argentinos também estão no Brasil.

Como o elenco chega fisicamente para enfrentar o Minas?
É fundamental estar bem fisicamente neste momento. Ao longo da temporada, a gente procurou utilizar alguns jogadores, que vem crescendo muito. O Zu, por exemplo, tem média de quase 15 minutos por jogo. O David Jackson, dos 36 jogos que nós tivemos na fase de classificação, ele jogou 20. Tivemos o Charlie (Hinkle) chegou depois. Nathan e (Edu) Marília têm média de nove minutos por jogo. São jogadores que têm dado a parcela de contribuição deles muito importante, mesmo sendo jovens, e, nesse momento, com certeza, nós vamos precisar de todo o plantel. Nós vamos precisar de todos prontos seja para jogar um, dois, 10 ou 30 minutos. Vamos precisar que todos estejam muito alertas para entrar e executar aquilo que tem de ser executado Claro que cada um na sua função, mas todos eles serão muito importantes.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.

Por: Imprensa – Liga Nacional de Basquete

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